quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

«CHARLES-ET-GEORGES»


Navio negreiro francês de meados do século XIX, do qual desconhecemos as principais características físicas e as origens. Sabe-se que, em Dezembro de 1857, foi apresado pelas autoridades coloniais portuguesas de Moçambique, quando se encontrava fundeado a «menos de um tiro de canhão» da ilha de Quintangonha com um carregamento de 110 escravos, destinados às plantações de cana-do-açúcar da ilha da Reunião. Interrogado pelas nossas autoridades -que mais não faziam do que cumprir as leis internacionais sobre a escravatura- o capitão do navio negreiro (um certo Mathurin Rouxel) respondeu, com arrogante má fé, que os negros encontrados agrilhoados no seu navio eram, todos eles, colonos livres e trabalhadores voluntários. Perante as evidentes falsidades do francês, foi-lhe levantado um auto e o caso levado ao julgamento do governador-geral. Perante isto, o governo francês de Napoleão III, encorajado pela atitude passiva da Inglaterra (que, mais uma vez, abandonou Portugal à sua sorte) exigiu a libertação dos negociantes de carne humana, a devolução do «Charles-et-Georges» e o pagamento de indemnizações. Ameaçando que, não satisfazendo Portugal essas pretensões, a França enviaria uma esquadra ao estuário do Tejo para bombardear Lisboa. Perante tão brutal e ignominiosa chantagem e sem forças suficientes para contrariar a ameaça que pairava sobre a sua capital, o governo de D. Pedro V (um monarca generoso e antiesclavagista convicto) acabou por ceder às exigências de um país que, apesar de ter imposto a sua vontade, não saiu engrandecido, nem dignificado deste singular indidente. Incidente que, ao tempo, muito emocionou a opinião pública portuguesa e todos aqueles que, no mundo, pugnavam pelo fim, efectivo, do tráfico de escravos.

Sem comentários:

Enviar um comentário