quarta-feira, 11 de setembro de 2013

«FRANCE»

Paquete pertencente à frota da C.G.T. (Compagnie Générale Transatlantique), a mais poderosa e prestigiada empresa de navegação francesa de sempre. Este gigante dos mares -que chegou a ser o maior navio de passageiros do seu tempo- foi construído nos estaleiros navais de Saint Nazaire (Chantiers de l'Atlantique) e registado no porto do Havre, na Normandia. De onde assegurou uma linha regular para Nova Iorque. Infelizmente, este grandioso e belo navio -que realizou a sua viagem inaugural em Fevereiro de 1962- apareceu numa época em que os jactos comerciais começavam a atravessar o Atlântico sem escalas. Apareceu num tempo em que o preço das viagens de avião (até então reservadas a uma elite endinheirada) começavam a democratizar-se. Apareceu num tempo em que as pessoas começaram a dar prioridade à velocidade e a renunciar ao prazer proporcionado pelas viagens a bordo de hotéis flutuantes. Nessas circunstância, e tal como já acontecera a alguns dos seus congéneres, o mastodôntico (o navio deslocava 66 345 toneladas e media 315,66 metros de comprimento por 33,70 metros de boca) e luxuoso «France» acabou por sucumbir à guerra feroz travada entre companhias aéreas e armadores de navios. E, em 1974, depois da sua exploração comercial ter sido considerada ruinosa (e também pelo facto do governo ter suprimido as subvenções oferecidas para o manter ao serviço), este fabuloso navio (que podia transportar 2 180 passageiros em condições de conforto excepcional, mesmo os da classe turística) foi retirado do activo. É verdade que, nesse tempo, também abalado por uma das primeiras crises do petróleo, era difícil rentabilizar um navio cujas máquinas -desenvolvendo uma potência de 160 000 cv- devoravam rios de carburante; como também era quase impossível manter uma tripulação permanente de 1 000 membros. O seu armador ainda tentou a aventura dos cruzeiros, mas, ainda assim, o navio se revelou ruinoso. No domínio das viagens de puro lazer, são de recordar as famosas voltas ao mundo do «France» com turistas ricos, que se faziam com passagens pelo cabo Horn, devido à sua excepcional largura, que o impedia de utilizar o canal de Panamá. Depois de ter passado alguns anos inactivo, o «France» foi vendido -em 1979- à companhia Norwegian Caribbean Line, que o remodelou e lhe deu o novo nome de «Norway». Essa transformação custou a soma fabulosa de 80 milhões de dólares e, apesar de se terem reduzido substancialmente as despesas de consumo de carburante, também não resultou inteiramente. Mas, apesar de tudo, este magnífico símbolo da tecnologia naval francesa (que nos seus tempos áureos podia navegar à velocidade de 30 nós) cumpriu, até aos primeiros anos do século XXI, o seu novo destino de navio para turistas. Até que, após muitas vicissitudes, acabou (em 2007) por ir parar às mãos de um sucateiro indiano, de Alang, que levou dois anos inteiros para desmantelar aquele que foi o derradeiro autêntico 'liner' a ligar a Europa à América do norte. Porque, tendo os armadores aprendido a lição, os paquetes que lhe sucederam já foram, todos eles, construídos a pensar na vertente cruzeirista. Curiosidade : o abandono do «France», ou mais concretamente a sua venda para o estrangeiro, causou, nos anos 70 do passado século, em França, uma inesperada onda de indignação, que esteve na origem de grandes manifestações e que fez correr muita tinta na imprensa. Todo esse alarido nacionalista foi agravado por uma canção de grande sucesso, interpretada por Michel Sardou, um ídolo popular, que na referida canção (intitulada «France») exacerbava o descontentamento generalizado através de versos que toda a gente cantou : «Ne m'appelez plus jamais France/La France elle m'a laissé tomber/Ne m'appelez jamais France/C'est ma dernière volonté...».

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